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Os primeiros encontros mãe-bebê

É muito comum falarmos sobre a preocupação das mães de primeira viagem em relação ao início da relação com seus filhos. Mas acho importante pensarmos o que significa ser uma mãe de primeira viagem. Sim, após a primeira maternagem, algumas inseguranças já são mais bem acomodadas dentro de uma mãe, mas, seja esse o segundo, terceiro, quarto ou quinto bebê, ela nunca foi mãe desse bebê que está chegando. A experiência sempre é nova.

Pensando nas inseguranças das mães em relação ao momento de conhecer, no mundo aqui de fora, seus bebês, é importante frisar que ambos sobrevivem à inexperiência das mães. Como eles sobrevivem? Na verdade, é somente juntos, na vivência de contato afetivo, com intimidade e relação contínua um com o outro que mãe e bebê aprendem a se relacionar entre si, se conhecem e se transformam mutuamente.

Ainda que falemos de uma relação que exige tanta entrega, Winnicott já trazia em seus escritos, com intenção de tranquilizar as mães, ajudando-as a confiar em si mesmas, que elas não precisam – e nem devem – ser perfeitas, basta que sejam boas o suficiente. Estamos falando do quão importante são as “falhas” das mães, ou seja, quando algo que o bebê precisa acaba por faltar ou por demorar a ser atendido, momentos em que o bebê não é atendido imediatamente em suas necessidades, como acontecia durante a gestação, no útero materno. Essas situações existirão, e ainda bem que existirão. Esses espaços de desconforto ou vazio são aos poucos preenchidos pelo bebê através da atividade de fantasia, ou seja, através da imaginação, da criatividade. O bebê precisa disso para desenvolver a capacidade de imaginar, tão fundamental para todo o desenvolvimento, inclusive para a vida adulta.

Vemos, assim, o quão importante é essa primeira relação do bebê fora do útero, sua relação mais primitiva e por isso tão importante na construção da maneira de cada um de se relacionar com todas as outras pessoas e consigo mesmo. É através do olhar da mãe que os filhos vão criando as suas identificações. O bebê se torna um ser para si mesmo ao se perceber como um ser para a sua mãe. Dessa forma, é fundamental que seja uma relação real, com suas qualidades e seus pontos fracos. O que buscamos é que o amor seja predominante.

Camila Saldanha

Psicóloga, psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos.

Membro Associado do ESIPP. Professora de técnica psicanalítica, supervisora de atendimentos individuais e da atividade de observação da relação mãe-bebê do estágio de Psicologia Clínica do ESIPP.

Sócia-fundadora da Eligens Consultoria(@eligensconsultoria/

www.eligensconsultoria.com.br).

Contato (51) 999654055 / camilasaldanha.psico@gmail.com