Publicado em

O LUTO DA AMAMENTAÇÃO

Alice Freitas Psicopedagoga

Esse termo eu confesso que é novo pra mim. Ouvi da pediatra dos meus filhos quando havia decidido que faria o desmame do Nicolas quando fizesse dois anos. Dois meses depois descobri que estava à espera do Luca.

Já ouvimos vários escritores falarem sobre a última vez que … A última vez que ouvimos a voz de alguém que vai embora, a última vez com precisamos de ajuda para colocar o tênis, que alguém precisa ler para nós. Mas de fato nos apegamos sempre às nossas primeiras vezes, a primeira palavra, o primeiro dente, o primeiro passo… Mas o último mama? Esse termo de fato eu ainda não havia escutado. E nem sequer parado para pensar sobre isso. Decidi que o Théo seria filho único por muitos anos, e somente quando ele fez sete anos que voltamos a pensar em ter outro filho, o Théo parou de mamar em vinte e um de outubro de dois mil e quatorze, e grave esse número, pois vinte e um vai aparecer mais por aqui. Ele já tinha um ano e três meses, já usava fórmula e o peito era o nosso momento de carinho, eu lembro que fiz uma leve fissura no mamilo e doía para amamentar, então disse que estava com dodói e ele aceitou super bem. Nunca parei e pensei que talvez pudesse ser a última vez amamentando.

Então seis anos depois o Nícolas chegou e junto com ele uma mudança de estado e de brinde uma pandemia. Então o Nícolas mamou muito no peito. E quando ele estava prestes a fazer dois anos eu decidi que já era hora de parar. Então a pediatra me questionou se eu já havia me preparado para o luto da amamentação, já que não havia planos nossos de mais um bebê, nós só esquecemos de avisar o Luca….

Descobrir uma nova gestação em meio a despedida de uma amamentação foi o que me fez viver intensamente o luto da amamentação. Eu queria tirar o peito do Nícolas, mas quando a realidade bateu em minha porta o sentimento de perda e culpa foram muito fortes. O incômodo da barriga que crescia misturada ao sono foi me desgastando, então comecei a conversar com o Nico para dar tchau ao mama. E aqui escrevendo eu revivo o momento e lembro como ele estava pronto e reagiu tão bem a essa mudança. O desmame foi bem mais doloroso pra mim do que pra ele… dói só de lembrar das tardes ele me olhando deitado no meu colo pra dormir o sono de depois do almoço, sem conseguir pegar no sono, eu perguntando se queria um mama e ele com a cabeça sinalizando que sim, pegando no sono cinco minutos depois, era um chamego, um momento só nosso, naquele dia eu chorei…

Sei que muitas mulheres sofrem com a amamentação, passam trabalho, dor física e emocional, não é para todo mundo que este assunto é um mar de rosas. Mas para mim foi. Foram três gestações amamentando no peito, curtindo muito este momento, e sim, eu sinto muita saudade dessa fase. O Luca? Ah o Luca mamou no peito até quase dois anos, lembram do número vinte e um? O Luca fez dois anos em vinte e um de fevereiro de dois mil e vinte e quatro e parou de mamar no dia vinte e um de janeiro do mesmo ano… Ele simplesmente parou de pedir o mama da mãe, simples, sem drama, e hoje às vezes ele fala “quero o mama da mãe” e eu digo pra ele que acabou, ele ri me faz um carinho e fica tudo bem…

O luto na verdade é sentido de acordo com o momento que estamos vivendo, quando o Nico parou eu estava cheia de dúvidas e incertezas com mais uma gestação à caminho sentindo dó dele por achar que ele perderia muita coisa, então a despedida foi muito mais dolorosa. Hoje eu vejo que os três tiveram o seu momento e curtiram do seu jeito, cada um com o seu perfil. E o luto foi vivido e sentido como deveria ser, porque sim, precisamos nos permitir sentir. É isso que rege nossa vida, sentir cada emoção e viver ela, porque nunca saberemos quando será a última…

Uma imagem contendo nome da empresa  Descrição gerada automaticamente